quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Crítica à Marx a partir de Tocqueville


O confrade Luiz Henrique de Morais, da Comunidade Apologética Católica do Orkut, escreveu um texto que gostei muito. Com sua autorização postarei um fragmento, que é bastante pertinente. Penso ser uma crítica que engloba não apenas o comunismo marxista, mas também todo governo socialista. Vamos à ele:

"Uma vez que o desejo de igualdade é insaciável nas pessoas, segundo Tocqueville, a maioria delas estaria aberta a abrir mão da liberdade política em nome de maior igualdade. De modo que o surgimento de um poder capaz de eliminar as classes e igualar os indivíduos com o prejuízo de subtrair-lhes a liberdade política, como o Estado proletário de Marx, seduziria a muitos. A valorização da liberdade política seria, então, a prevenção contra a ambição pela igualdade extrema. Enquanto em Marx a igualdade é o fim ideal a ser atingido, em Tocqueville ela é apenas um meio para garantir a liberdade.

Se a igualdade universal tende a gerar tal bem-estar que o homem acomodar-se-ia ao Estado da maioria sem questionar, Tocqueville também prevê que os indivíduos abdicariam da reflexão política e abandonariam todo sentimento de participação social. As pessoas iriam isolar-se num individualismo que levaria cada um a preocupar-se apenas com os problemas particulares, a relacionar-se apenas com as pessoas mais próximas e a outorgar direitos cada vez maiores poder central, único representante dos interesses coletivos. Além disso, os indivíduos iguais que respondem somente ao poder centralizado entrariam numa decadência moral e intelectual deplorável.

A ausência de poderes intermediários e o “individualismo igualitário” facilitariam o surgimento de um despotismo de tutores provedores que, pelo pequeno preço de manter os prazeres das massas infantilizadas, governariam livremente como bem entendessem e forneceriam idéias uniformes às massas, pela educação pública, por exemplo, para que estas sempre concordem com as decisões do Estado. Essa estratégia de conquistar as massas com “pão e circo” e uniformizar o pensamento segundo as intenções do Estado, que o pensador francês previne, aproxima-se da idéia do teórico marxista António Gramsci de que o partido deve implantar a Revolução a partir da transformação lenta e gradual das mentalidades, desacreditando as instituições e os valores tradicionais e usando, sobretudo, a influência dos intelectuais e dos aparelhos ideológicos (no caso, partidários/estatais) de hegemonia. Assim, a revolução igualitária proposta por Marx seria catastrófica para Tocqueville justamente porque instituiria um poder centralizador provedor e tutor e, implantando-se a igualdade, deixaria os indivíduos acomodados, vis e medíocres.


Quanto às crenças, se, por um lado, Marx considerava a religião um instrumento da classe dominante para iludir os espíritos e conservar seu poder, Tocqueville pensava que a religião é uma aliada de peso contra as tendências despóticas, pois, além de dar a Fé e as bases morais essenciais, o cristianismo traz em sua essência o espírito daquela liberdade capaz do sacrifício dos próprios interesses em favor do bem da comunidade. Ele considerava louvável o caráter de um povo com espírito comunal, com homens capazes de comprometerem-se, de assumirem responsabilidades, de honrarem a palavra. Um povo que zelasse sempre pelas liberdades locais e tivesse a iniciativa de constituir associações para buscar os objetivos comuns sem a intervenção de um poder estatal forte e centralizador: Eis o que era, para Tocqueville, uma sociedade de instituições livres. "

Sintetizando:

"
Tocqueville tinha previsto que o “individualismo igualitário” facilitaria o surgimento de um despotismo do Estado tutor que, pelo pequeno preço de manter os prazeres das massas infantilizadas, governaria livremente como bem entendesse e forneceria idéias uniformes que deixariam as massas cada dia mais imorais, acomodadas e medíocres. Um profeta!"


Não conhecia Tocqueville, mas a partir deste texto, sinto uma necessidade de estudá-lo.




domingo, 22 de fevereiro de 2009

Camisinha


Estava passeando no largo durante uma noite de carnaval com a Helen e não é que vejo a Secretaria de Saúde distribuindo preservativos sem o menor pudor? Também não é mais preciso se envergonhar, afinal depois que o governo federal passou a fazer campanhas e mais campanhas "educativas" a respeito do sexo "seguro", para que sentir algum constrangimento?

Não tenho filha mulher, mas ficaria puto se alguém oferecesse a ela uma camisinha, mesmo que este alguém seja um representante do governo municipal. Quando um servidor oferece uma camisinha para um casal, o que fica subentendido? "Vão e trepem!" Façam bastante sexo, mas usem a camisinha. O governo do socialista Lula está conseguindo destruir os valores. Falta dinheiro para a educação, para a cultura, para a saúde, para a segurança pública, mas para campanhas que bestializam as crianças e jovens não falta grana. Sim, bestializa. Animaliza. Quem não consegue dominar a si mesmo, não pode ser considerado Homem.

Trepar com camisinha é algo tão artificial quanto transar com uma bexiga de borracha. A garota, como a cadelinha da ilustração, faz sexo com o primeiro que aparecer, contanto que use a proteção. Aí o parceiro parte para outra, afinal esta garota é muito fácil, se deu pra mim, vai dar ou já deu pra qualquer outro. Não serve pra casar.


Na África do Sul foram distribuídas camisinhas com o mesmo objetivo que no Brasil: evitar a propagação da AIDS e DST. O efeito foi contrário. Uma das causas, foi que as camisinhas compradas pelo governo sul-africano estavam defeituosas. O Brasil que é um país "seríssimo", não estaria correndo o mesmo risco? Tudo que é oferecido de graça não tem muita qualidade não: é só dar uma olhadinha na educação, saúde e outros serviços públicos...

Como sabemos o continente africano é onde mais se propaga o HIV. O único país que conseguiu reverter a situação foi o único que não usou a distribuição gratuita de camisinhas pelo governo: Uganda. O governo deste país investiu forte, com a ajuda da Igreja, na castidade e fidelidade conjugal. Apesar de ser taxada de retrógrada, a Igreja com seus métodos consegue praticamente erradicar um mal que vinha dizimando vidas.

O que é mais grave é que a dita camisinha não é
100% segura. Existem poros em sua constituição que são 450 vezes maiores que o vírus da AIDS, quer dizer o bichinho nada a braçadas.

O governo Lula não vai conseguir melhorar a situação de nosso país bombardeando os valores morais que ainda nos restam. Ao contrário, a situação tende a piorar.

É uma campanha imoral e irresponsável. Mas o que poderíamos esperar de um governo socialista e consequentemente, materialista?





sábado, 21 de fevereiro de 2009

Verbas

A cidade de Elói Mendes, através de um deputado estadual, conseguiu uma verba de R$ 100.000,00 (cem mil reais), para reforma da Casa de Cultura que funciona no antigo Clube Eloiense - foto ao lado).

São João del Rei, será beneficiada através do governador do estado com verbas para banhar em ouro os altares das igrejas históricas da cidade. Lembrando que o mercúrio dos flashes de máquinas fotográficas escureceram o ouro original das igrejas.

Será que nossos governantes não conseguiriam também verbas junto ao governo federal ou estadual para reformar e dar uma nova funcionalidade ao antigo prédio da estação? Ou pelo menos adquirir novos livros para nossa Biblioteca Municipal? Afinal ela é uma das maiores da região e pelo que sei, há muitos anos não adquiri um único livrinho para suas estantes.

Hoje nosso Executivo é comandado pelo mesmo partido do Governo Federal, além de termos o deputado majoritário também do mesmo partido. Seria o momento de não perder oportunidade e correr atrás.

Há alguns dias o Lula torrou uma grana violenta para fazer uma festinha com os prefeitos (dinheiro público). Já que a grana está sobrando, porque não apoiar a educação e cultura de cidade pequenas?

Maria Fumaça


Esta belezinha aí ao lado era a Maria Fumaça que servia Campanha.

Infelizmente depois de desativada a estrada de ferro, tudo foi acabando. Retiraram os trilhos, a estação ficou abandonada, sendo utilizada como depósito da Associação dos catadores de material reciclável nos dias atuais, e a locomotiva e vagões foram, segundo a informação de um amigo jornalista parar em São João Del Rei.

Se tivéssemos governantes preocupados com a história, não era para a estação ser melhor aproveitada? Para a Associação, poderia ser doado um terreno ou mesmo um galpão de maiores proporções e de melhor funcionalidade. A velha estação poderia ser recuperada e utilizada como um espaço cultural ou mesmo um museu ferroviário. A maria fumaça poderia ser utilizada de maneira como o é em cidades como São João del Rei, Ouro Preto, Tiradentes, Mariana, São Lourenço, etc. Ou seja, como atração turística e passeio ecológico-histórico. Talvez uma linha até Cambuquira ou São Gonçalo. Além de ser um belo e gostoso passeio, a prefeitura ainda arrecadaria um bom dinheiro.

Estação Ferroviária


HISTORICO DA LINHA: O ramal de Campanha foi construído pela E. F. Muzambinho em 1894. Na mesma época, foi construído outro curto ramal, o de São Gonçalo, ligando Campanha a esta cidade. Mais tarde ambos foram unificados. Os dois foram extintos em 17/12/1966.



A ESTAÇÃO: A estação da Campanha foi aberta com o ramal, em 1894. Pelo menos esse trecho até Campanha foi construído por Euclides da Cunha, que inaugurou-o com a estação em 1894. O tráfego de trens permaneceu até 17/12/1966. A estação e o armazém estão de pé até hoje, funcionando como depósitos (Associação dos catadores). Curioso que em fotos mais antigas a estação tinha um segundo andar, que não existe mais hoje.


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

José Pedro Xavier da Veiga


O precursor nos estudos sobre jornalismo em Minas
Por Jairo Faria Mendes em 3/8/2004






José Pedro Xavier da Veiga foi um dos grandes intelectuais mineiros do século 19, um jornalista de destaque, um importante historiador e político. Além disso, foi o precursor nos estudos sobre jornalismo nas Minas Gerais. Sua monografia A imprensa de Minas Gerais 1807-1897 (In: Revista do Arquivo Público Mineiro, Ano III, 1898. pp. 169-249) foi o primeiro trabalho sobre jornalismo produzido no estado. Ele era de uma família de grande tradição na política, na imprensa e na cultura. Um exemplo disso foi seu tio Evaristo da Veiga, o redator da Aurora Fluminense, que contribui bastante para a abdicação de D. Pedro I.

Seu avô, Francisco Luís Saturnino da Veiga, veio de Portugal em 1784, com 13 anos, e foi morar no Rio de Janeiro. Lá, ainda moço, lecionou Latim, Aritmética e Gramática. Mas em pouco tempo mudou de ofício, tornando-se livreiro, o que contribuiu muito para que seus descendentes ganhassem amor pelos livros.

Entre os filhos de Saturnino da Veiga estavam figuras brilhantes. Evaristo, grande jornalista e político, eleito três vezes deputado pelas Minas Gerais. Bernardo, por duas vezes exerceu a presidência da província das Minas, e foi representante na Câmara dos Deputados do Império entre 1843 e 1844, e deputado provincial. Lourenço, o pai de José Pedro Xavier da Veiga, criou jornais e foi defensor da fundação de uma nova província no sul das Minas.

Os parentes de José Pedro Xavier da Veiga criaram diversas publicações, na cidade de Campanha, nas Minas Gerais: Opinião Campanhense (1832 a 1837), Nova Província (defendendo a criação da província no Sul das Minas, 1854 e 1855), O Sul de Minas (1859 1863), O Monitor Sul Mineiro e almanaques (1872 a 1898). Mas o maior destaque foi Evaristo da Veiga, com a Aurora Fluminense, no Rio de Janeiro, uma referência do jornalismo brasileiro no século 19.

Jornalista aos 12


No dia 13 de abril de 1846, nasceu José Pedro Xavier da Veiga, em Campanha, nas Minas Gerais. Edilane Maria de Almeida Carneiro e Marta Eloísa Melgaço Neves descrevem bem a história dele na introdução da obra prima de Xavier da Veiga, Efemérides mineiras, reeditada em 1998, pela Fundação João Pinheiro.

Até os 10 anos, ele não freqüentou a escola, por ter saúde muito frágil. Mas seu pai o alfabetizou, e o convívio com a família culta, que participava muito da vida política, o incentivou a tornar-se intelectual e militante.

Aos 11 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, trabalhando por cinco anos na livraria de seu tio João Pedro. Com 12 anos, apesar da pouca idade, participou da fundação da Sociedade de Ensaios Literários, e na revista da entidade publicaria seus primeiros textos. Na primeira edição da revista, em 1863, ele trazia o artigo "Estrela do Sul (Província de Minas)", defendendo a bandeira de sua família, ou seja, a criação de uma nova província no sul das Minas.

Um artigo publicado no oficial Minas Gerais, em 10 de agosto de 1900, considera que nesse momento surge o grande jornalista:
"Pode-se dizer que Xavier da Veiga iniciou sua vida de imprensa aos 12 anos, pois foi justamente nessa quadra, em que as crianças apreciam mais os folguedos e a convivência com seus amigos, que ele, recolhido ao seu quarto, sozinho, lançava no papel as premissas de seu fulgurante talento."Em 1867, Xavier da Veiga foi para São Paulo cursar a Faculdade de Direito. Lá teve a oportunidade de conviver com pessoas que influenciariam a história das Minas e do Brasil, como Silviano Brandão, Afonso Pena, Feliciano Pena e Crispim Jacques Bias Fortes. No entanto, por problemas pulmonares, teve que retornar a Campanha antes de terminar o curso.
"Perseguições revoltantes"
De 1870 a 1878, foi escrivão dos Órfãos, em Lavras, onde estabeleceu um cartório e passou a militar no Partido Conservador. Ele seria uma das lideranças conservadoras da província (depois estado), elegendo-se em vários pleitos como deputado estadual e uma vez senador, e se destacaria defendendo questões nobres como a educação pública e a abolição da escravatura. Em seu principal livro, Efemérides Mineiras, refere-se à Lei Áurea:
"(...) lei grandiosa e santa, complemento indispensável das de 28 de setembro (a de 1871, lei Rio Branco, e a 1885), foi a redenção abençoada para cerca de 230.000 infelizes em Minas Gerais e para quase 800.000 no Brasil." (Xavier da Veiga, 1897) Xavier da Veiga dedicou boa parte de sua carreira política à defesa da educação pública. Em 1872, quando ainda era escrivão em Lavras, fundou a Sociedade Propagadora da Instrução. "Pautando-se sempre pela defesa da instrução pública e ampliando seu enfoque para além das propostas de ensino primário, propôs em anos posteriores a criação de cadeiras noturnas e de escolas de ensino profissional e agrícola." (Introdução de Carneiro e Neves, in Veiga, 1998, p. 23). Sua última luta política foi contra a mudança da capital das Minas, de Ouro Preto. Quando foi administrar o Arquivo Público Mineiro, largou a vida política.
Em 1878, Xavier da Veiga mudou-se para Ouro Preto e comprou, com Pedro Maria da Silva Brandão, uma tipografia. No ano seguinte os sócios lançavam o jornal A Província de Minas, que se apresentava como órgão do Partido Conservador. No primeiro número a publicação explicava que tinha como objetivo defender os conservadores de "injustiças cruéis" e "perseguições revoltantes". O jornal circulou até novembro de 1889, quando ocorreu a proclamação da República.
Mineiro importante
A partir de 27 de novembro de 1889, Xavier da Veiga passou a publicar o jornal A Ordem, "inaugurando um novo propósito: demonstrar a necessidade de que o novo regime republicano fosse aceito pacificamente em Minas Gerais" (Introdução de Carneiro e Neves, in Veiga, 1998, p. 20). A publicação circulou até 31 de dezembro de 1892.
Xavier da Veiga era um apaixonado monarquista, mas foi defensor da Republica depois que esta foi instituída. Pode parecer um paradoxo, mas ele justificava sua atitude dizendo preferir a República do que ver a ordem ameaçada. "(...) acabo de declarar franca e lealmente que a monarquia, não obstante os grandes serviços que dela recebeu o Brasil, é um fato do passado, que a sua restauração seria uma calamidade pública" (Veiga apud Lima, 1911, p.60)
Uma grande contribuição de Xavier da Veiga foi criação da Revista do Arquivo Público Mineiro, em 1896. Um ano antes ele havia abandonado sua cadeira de senador para fundar o Arquivo Publico Mineiro. O órgão seguia os princípios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), e tinha como objetivo reunir fontes primárias importantes para a história e geografia das Minas Gerais.
No decreto de criação do Arquivo Público Mineiro estava prevista a criação de uma revista, o que foi feito por Xavier da Veiga. O primeiro número, de 1896, organizado em quatro fascículos, publicou muitas fontes primárias. E, na revista, saíram ensaios de grande importância para a historiografia mineira. O próprio Xavier da Veiga escreveu importantes textos, como "A imprensa em Minas Gerais (1807-1897)", que inaugurou os estudos jornalísticos no estado, e "Minas Gerais e Rio de Janeiro (Questão de Limites)", que ajudou na negociação sobre a fronteira entre os dois estados. Ele trabalhou no APM até morrer e foi responsável pelos cinco primeiros números da revista, que depois ficaria a cargo do também importante jornalista, político e historiador Augusto de Lima.
Era norma para todos que entravam na Academia Mineira de Letras fazerem a biografia de algum mineiro importante. Augusto de Lima escolheu Xavier da Veiga, por quem demonstrou grande admiração.
"Proeza extraordinária"
A monografia de Xavier da Veiga, publicada na Revista do Arquivo Publico, nº 3, de 1898, com o título "A imprensa em Minas Gerais (1807-1897)", faz nascer os estudos sobre jornalismo no estado. Com 80 páginas, o texto faz um relato do primeiro século da imprensa nas Minas, e traz um inventário com as publicações que surgiram nestes 100 anos.
O estudo, até hoje, é utilizado por historiadores e pesquisadores do jornalismo. Ninguém conseguiu superar Xavier da Veiga, sua monografia continua a principal referência sobre a história da imprensa mineira. Surgiram registros e análises de fatos isolados, de jornalistas ou da história do jornalismo em cidades das Minas; mas faltam publicações que tenham um olhar "macro" sobre a memória da imprensa no estado.
Xavier da Veiga começa fazendo um rápido histórico, que passa pelo invento de Gutenberg; a oficina de Antônio Isidoro da Fonseca, no Rio de Janeiro, fechada em 1747; e os primeiros jornais brasileiros. No entanto, gasta apenas cinco páginas para essa introdução, e entra no que lhe interessava, a memória da imprensa nas Minas.
Ele descreve com detalhes a primeira impressão feita nas Minas, em 1807, pelo padre José Joaquim Viegas de Menezes. O poeta e cronista Diogo Pereira Vasconcelos escreveu um canto panegírico (um poema) homenageando o governador da capitania, Pedro Maria Xavier de Atayde. Apesar das atividades gráficas serem proibidas na colônia, o governador quis ver o texto impresso, e procurou o padre Viegas, o único que poderia atender a seu desejo.
Depois de três meses de trabalho, o padre imprimiu um poema, utilizando uma técnica chamada calcografia, que consiste no uso de chapas fixas de bronze. Esse é um dos grandes momentos da imprensa brasileira. Ele é descrito por Sodré (1999) como "proeza extraordinária para a colônia" (p. 34).
Um erro repetido
Na monografia também é feita rápida biografia do herói da imprensa mineira, o padre Viegas. Ele, além da impressão calcográfica de 1807, foi responsável pela primeira tipografia construída no país (trabalho iniciado em 1820). A monografia descreve bem isso.
O português Manoel José Barbosa Pimenta e Sal, residente em Vila Rica (que mais tarde viraria Ouro Preto), costumava folhear o "Diccionario de Sciencias e Artes", em francês [provavelmente o Dictionnaire des Sciences, des Arts et de Métiers (1751-1777), de Diderot], dando atenção ao trecho que descrevia uma tipografia. Um acaso feliz aproximou o português do padre Viegas, que traduziu a parte referente à tipografia, e explicou como ela funcionava. Depois, os dois resolveram juntos fundir os tipos e construir um prelo. Nessa tipografia seriam impressos muitos jornais. Ela, certamente, foi decisiva no nascimento e na evolução do jornalismo nas Minas.
A monografia ignora um fato importante da biografia do padre Viegas. Foi ele também o diretor do primeiro jornal do Estado, o Compilador Mineiro.
Para falar do padre, é fácil identificar (embora não citado na monografia) que ele utilizou como principal fonte um trabalho biográfico publicado no Correio Official de Minas, de 10 a 13 de janeiro de 1859. Esse texto, apesar de bem anterior ao de Xavier da Veiga, não pode ser classificado como um estudo sobre a imprensa: é uma biografia, escrita no estilo do jornalismo da época, rebuscada e com tom apologista, mas bem redigida.
No entanto, Xavier da Veiga comete um erro, que muitos anos depois seria repetido por Nelson Werneck Sodré, em História da imprensa no Brasil. Ele diz que o primeiro jornal das Minas foi a Abelha do Itaculumy, criado em 1824. No entanto, a primazia é do Compilador Mineiro, fundado um ano antes.
Inventário da imprensa
Ao citar os primeiros jornais da província, Abelha do Itaculumy (1824), o Compilador Mineiro (de 1823, que a monografia diz ser de 1824, e sobre o qual o autor mostra ter muitas dúvidas a respeito do local da impressão e de quem o dirigia), ganha destaque o Universal. É fácil entender a ênfase dada ao Universal, o primeiro jornal com expressão na província. Foi criado pelo polêmico político Bernardo Vasconcelos, que o dirigiu até 1833. Depois o jornal mudou radicalmente de posição política, e, em 1842, tomou uma das decisões mais ousadas da história de nossa imprensa. Seu diretor, José Pedro Dias de Carvalho, derreteu os tipos do jornal para fabricar balas para a revolução liberal que estourava na província.
Em seguida, vêm a descrição das primeiras localidades mineiras com jornais. Como ele mostra, os jornais começaram em Ouro Preto, em 1823. A segunda localidade foi São João Del Rei, que em 20 de novembro de 1827 ganhou o Astro de Minas, considerado "brilhante" por Xavier da Veiga. Depois, o Arraial do Tijuco (hoje cidade de Diamantina) ganhou o Echo do Serro, em 1828.
Em 1830, três localidades passaram a ter jornais: Mariana (Estrella Mariannense), Serro (Sentinela do Serro, de Teófilo Otoni, seguindo a linha editorial da Sentinela da Liberdade, de Cipriano Barata) e Pouso Alegre (Pregoeiro Constitucional). Outros locais que ganharam publicação: Itambé do Serro (7º lugar), Campanha (8º lugar), Sabará (9º lugar) e Caeté (10º lugar).
A parte mais importante do trabalho de Xavier da Veiga vem depois, o inventário da imprensa nos seus primeiros 100 anos. Em 34 páginas, ele lista as centenas de publicações criadas nas Minas, no período, em 87 localidades.
A grande obra
Pelo inventário, é clara a grande importância de Ouro Preto neste primeiro século de jornalismo. São listados 163 periódicos na cidade. Outros municípios com bom número de publicações: São João Del Rei (41), Diamantina (45), Campanha (33), Juiz de Fora (55) e Uberaba (57). Belo Horizonte, recém-inaugurada (em 12 de dezembro de 1897), já tinha cinco periódicos listados por Xavier da Veiga.
O inventário mostra que nas Minas algumas regiões povoadas tardiamente estavam tendo uma imprensa muito forte, refletindo as grandes mudanças na região. Com a decadência da exploração do ouro e diamantes, gradativamente, localidades que cresceram com a mineração (Ouro Preto, São João Del Rei, Sabará, Mariana, Diamantina etc.) foram perdendo importância, e outras ganharam grande impulso (principalmente na Zona da Mata e no Sul das Minas).
No fim da monografia, Xavier da Veiga faz um relato da imprensa nas Minas em 1897. Segundo ele, dos 123 municípios que o estado tinha na época, 69 tinham periódicos. Ouro Preto continuava com posição de destaque – seis publicações, duas delas de grande importância: o jornal oficial Minas Gerais e a Revista do Arquivo Público Mineiro. O Minas Gerais se destaca por ser a única publicação importante, do século 19, que sobrevive até os dias de hoje. Belo Horizonte, que acabava de ser inaugurada (com o nome de Cidade de Minas), contava com quatro publicações: A Capital, O Bello Horizonte (o primeiro jornal da cidade), Tiradentes e O Bohemio.
A extensa Efemérides mineiras é a grande obra de Xavier da Veiga. Ele gastou quase 18 anos de trabalho árduo para produzi-la. Em 1897, lançou-a pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, em quatro volumes. A Fundação João Pinheiro lançou em 1998 uma reedição da obra, com dois volumes, que juntos têm 1.115 páginas. No livro, Xavier da Veiga faz uma cronologia detalhada da história mineira, mas um pouco confusa pela forma com que o autor organiza as informações.
As Efemeridades foram financiadas pelo governo de Minas Gerais. Já nos termos da lei de criação do Arquivo Público Mineiro, estava prevista a produção de "efemérides sociais e políticas". O APM seguia a linha do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que promoveu a publicação de edições históricas.
Lima conta que uma vez alguém procurou Xavier da Veiga querendo informações para escrever sua biografia. A reação de Xavier da Veiga foi entregar os volumes das Efemérides mineiras. "(...) como quem disse: Eis-me nesse monumento pátrio." (Lima, 1991, p. 39).


Fonte: Observatório da Imprensa

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Como já tenho um blog com conteúdo católico, criei este com o intuito de separar os temas. O outro, o Euricozine tem um conteúdo mais "universal". Já neste pretendo escrever temas de cunho mais regional. Mas nada impede que publique artigos iguais tanto nO Campanhense quanto no Euricozine.

Com esta separação sinto que ficarei mais à vontade para abordar diversos temas, objetivando leitores específicos.