sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Igrejas sempre tiveram bancos?

A partir da imagem de uma pintura partilhada no meu Facebook, aprendi coisas interessantíssimas sobre a nossa Igreja com o amigo e professor Carlos Ramalhete. Coisas essas que nunca foram ensinadas na Catequese. 

Trago para o blog a conversa, porque é uma forma de levar a outras pessoas esta deliciosa aula que recebi do Ramalhete. 

Interno della Cattedrale gotica di Anversa, 1612 - Pintura de Paul Vredeman de Vries. 
Carlos Ramalhete: Duas coisas bem interessantes:
A gama dinâmica da pintura, que hoje só se consegue com HDR;

O espaço aberto e "democrático" da igreja clássica, em que não há bancos forçando as pessoas a olhar pra frente, há várias Missas ao mesmo tempo, etc. Daqui a uns cem ou duzentos anos, provavelmente as igrejas terão voltado a ser assim.

Giovani Rodrigues:  Fantástico. Realmente a fotografia em HDR assemelha-se demais à pintura.  Não sabia que as igrejas não tinham bancos. Sabe quando começaram a ser introduzidos?  Sabia que havia várias missas ao mesmo tempo, mas não que era desta forma. Muito legal!

CR: O uso de bancos foi uma inovação protestante, que aos poucos foi se introduzindo na Igreja.

GR:  bom saber disso. Agora só vou assistir à missa de pé. mas são uns folgados mesmo, hem?

CR: É engraçado como essas coisas pseudo-democráticas (no protestantismo, a ausência de ordens, que faria com que cada um fosse, em teoria, um sacerdote - Cf. Jd11) acabam sendo nem um pouco democráticas. Na Igreja, cada um podia focar a sua atenção no que quisesse, com gente indo de Consagração em Consagração, outros ficando do começo ao fim numa mesma Missa, etc. O foco era Deus, e com isso cada um podia focar no que quisesse usar para apontar pra Ele.

A questão não é folga, é a obrigatoriedade de ouvir um mané falando. O "pastor" estava lá, mandando ver na oralidade (oratória & oração...), e todo mundo tinha que ouvir as besteiras que ele falava. *Ele* ficou importante, enquanto o padre é um mero instrumento.

GR: Rapaz, interessantíssimo isso tudo.

CR:  Repare na diferença entre o espaço sagrado e teocêntrico da Igreja, onde ocorre o mesmo Sacrifício em vários altares, e o espaço antropocêntrico criado pelo protestantismo, em que bancos forçam as pessoas a prestar atenção em alguém falando. E este falador, por estar virado para as pessoas, presta atenção nelas, fazendo o "círculo fechado" que o Papa acusa. Na pintura acima você vê que não há círculos: as pessoas estão todas voltadas pra Deus, em vários altares. O espaço todo é espaço cultual.

GR:  Sim! Na imagem as pessoas estão dispersas. os padres celebram sem se importarem de ter ou não "platéia". Mas e as homilias? Sei que existem sermões maravilhosos dos Padres da Igreja. Eram aos domingos, onde mais católicos podiam comparecer?

CR:  Isso; tanto que se você pegar os Sermões de Pe. Antônio Vieira, por exemplo, você vai ver que é um pra cada domingo. E aí - nessas missas mais solenes - a homilia era feita do púlpito que você pode ver, à direita, bem no meio da igreja e acima das cabeças. Assim não se corria o risco de misturar a ação humana (o sermão, para o qual o padre tira o manípulo, marcando que é "outra coisa" que não o serviço do altar) com a ação divina.

GR:  Por que nunca me ensinaram estas coisas na catequese? :(



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